No cenário organizacional contemporâneo, Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I) emergem como imperativos éticos, mas também como pilares para o desenvolvimento sustentável das organizações. Diversos estudos têm evidenciado a correlação positiva entre diversidade e aspectos cruciais para os resultados empresariais, tais como aumento da produtividade, redução dos índices de rotatividade, elevação da taxa de retenção de talentos, impacto positivo em vendas e lucratividade, ampliação da capacidade de inovação, maior satisfação dos clientes, ganhos em competitividade e melhoria na tomada de decisões.
O que é pauta na sociedade, em questão de tempo, se torna uma pauta organizacional, pois ao contrário do que aprendemos, não há separação entre o que somos pessoal e profissionalmente. Não é como se pudéssemos “ligar e desligar” um botão ao entrarmos no ambiente de trabalho e a tecnologia tem uma influência imensa nesse sentido, pois, quanto mais conectados estamos,,,Nossa subjetividade é permeada por tudo o que somos em todos os âmbitos da vida, então a nossa orientação sexual, identidade de gênero, cor, raça ou etnia, deficiência, idade, classe social, espiritualidade ou religião vão conosco aonde formos, pois são aspectos identitários para todos nós. Para que as práticas de DE&I promovam efetivamente um ambiente de trabalho inclusivo e garantam paridade de oportunidades, é imprescindível adotar uma perspectiva de justiça social. No desenvolvimento de carreira, essa abordagem é vital para combater as desigualdades estruturais no ambiente laboral, abordando as barreiras enfrentadas por profissionais LGBTQIAPN+ e o impacto dessas barreiras no bem-estar e na segurança no local de trabalho. A justiça social visa assegurar que todas as pessoas, independentemente de sua identidade de gênero ou orientação sexual, tenham igual acesso a oportunidades de carreira e possam contribuir totalmente com suas habilidades e talentos. Speight e Vera (2008) defendem que a justiça social envolve a remoção ativa de barreiras sistêmicas, a promoção de condições que permitam a todos prosperar, a correção de desequilíbrios de poder e recursos, e a ausência de discriminação. Esse compromisso demanda práticas organizacionais intencionais que desafiem as dinâmicas e estruturas de poder e privilégio que perpetuam a exclusão e a desigualdade, fundamentando-se em uma compreensão profunda das desigualdades estruturais (Speight & Vera, 2008; Sultana, 2014).
A diversidade representa a presença de diferenças dentro de um grupo, organização ou comunidade, englobando variáveis como cor de pele, raça, etnia, gênero, idade, religião, capacidade, orientação sexual e outros atributos individuais e grupais. A frase emblemática de Vernã Myers, "Diversidade é chamar para a festa, inclusão é convidar para dançar," destaca a importância de não apenas reconhecer a diversidade, mas também de promover uma participação ativa. Myers, ex-VP de DE&I da Netflix, exemplifica que diversidade é fundamentalmente sobre contar e incluir pessoas, sendo essa a primeira etapa de qualquer projeto voltado para DE&I nas organizações.
Equidade está relacionada à equiparação de condições, considerando as características e histórias individuais para que todos possam ter igualdade de oportunidades. Esse conceito extrapola a simples redistribuição de recursos, reconhecendo que muitas desigualdades atuais derivam de questões históricas e sociais, e não de mérito ou escolhas pessoais. A equidade visa criar condições que, embora não necessariamente iguais, oferecem uma paridade maior de oportunidades. Esse entendimento é crucial para a promoção de justiça social dentro das organizações.
Inclusão não se refere simplesmente à inserção, mas sim à implementação de políticas e práticas que promovam a educação sobre diversidade, direcionem iniciativas para grupos específicos e assegurem a equiparação de qualificação e formação. A inclusão genuína envolve criar um ambiente onde todos possam sentir pertencimento, aceitação e valorização, indo além da mera presença física. Assim, a inclusão é o terceiro e decisivo componente da tríade DE&I, pois só pode ser plenamente alcançada após a compreensão da realidade e a provisão de condições que favoreçam o pertencimento e a valorizabilidade.
Os grupos minorizados, que fazem parte da diversidade, incluem indivíduos que frequentemente enfrentam desigualdades sistêmicas, tais como pessoas negras, LGBTQIAPN+, mulheres, pessoas com deficiência, entre outros. Uma perspectiva de justiça social fornece uma ótica mais abrangente para abordar essas disparidades históricas, considerando não só a igualdade de oportunidades, mas também os contextos históricos e sociais que perpetuam as desigualdades. Essa abordagem é essencial para promover uma verdadeira inclusão e equidade nas organizações, reconhecendo que as diferenças individuais e grupais demandam soluções específicas e adaptadas.
Para que os projetos de DE&I tenham sucesso, é crucial que a alta gestão adira a esses projetos de forma intencional e consciente, não como uma medida utilitarista, mas como um compromisso genuíno com a justiça social. Somente através de um envolvimento verdadeiro e contínuo é possível alcançar a inclusão real, que por sua vez, é o que gera os resultados positivos apontados pelas pesquisas, como aumento na criatividade, inovação, produtividade, entre outros. A intencionalidade da liderança em promover DE&I deve estar alicerçada em valores organizacionais robustos de equidade e inclusão, assegurando que esses princípios estejam integrados na cultura e nas práticas diárias da empresa.